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sexta-feira, 17 de abril de 2009

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quarta-feira, 15 de abril de 2009

Ideologia e Alienação



Texto Complementar- Ideologia e Alienação
Lisnéia Aparecida Rampazzo

DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO

O termo ideologia aparece pela primeira vez em 1801, no livro de Destutt de Tracy, Eléments dÍdéologie (Elementos de Ideologia). Destutt pretendia elaborar uma ciência da gênese das idéias, tratando-as como fenômenos naturais que exprimem a relação do corpo humano, enquanto organismo vivo, com o meio ambiente. Com Marx, passa a designar um sistema de idéias condenadas a desconhecer sua relação com o real.

A palavra Ideologia foi usada pela primeira vez no sentido político mais amplo, por Karl Marx, há pouco mais de 100 anos. Marx, pensador e militante político alemão, lutava pela causa operária. Nos seus escritos, identificou claramente a sociedade como sendo dividida em dois grandes blocos opositores: um chamado burguesia (patrões, proprietários), e o outro, proletariado (sem vantagens, trabalhava mais de 14 horas/dia, iniciada a implantação das indústrias na Europa, sem regalias ou direitos). Se a sociedade era assim dividida, haveria também, na consciência dessas classes, uma divisão da mesma natureza.

Marx dizia que a luta existente entre a classe dos trabalhadores e a classe dos proprietários era uma luta que não ocorria somente na prática, ou seja, não ocorria somente pelo confronto e agressão física, mas também, como uma divisão em relação às idéias que essas classes possuíam. Ideologia, para Marx, era esse conjunto de idéias pertencentes a cada classe.
Marx e seu companheiro Engels não se preocuparam muito com essa questão das idéias. Estavam mais interessados no problema da prática política e econômica e das diferenças de classe, e em como a classe proletária poderia chegar ao poder. O problema ideológico era um problema que existia para eles em um plano mais discreto. Em seus escritos, a ideologia era apontada como uma “forma falsa” com a qual a classe dos proprietários tentava justificar suas atitudes e suas políticas antioperárias. Neste sentido, então, a palavra ideologia significava uma explicação errada, intencionalmente falsa, dos fatos que aconteciam na luta entre as classes.

As idéias de Marx e Engels repercutiram de forma muito forte, a ponto do movimento operário, no final do século passado, ter-se difundido bastante e exigido transformações muito radicais na sociedade.
A transformação mais significativa, que ocorreu após a morte de Marx e Engels, foi a Revolução Russa, em 1917, liderada por Lênin.

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Para Lênin, a questão das ideias já começava a ser um pouco mais preocupante. Lênin sabia claramente que tanto os trabalhadores quanto os patrões possuíam ideias próprias, específicas, e para ele o conceito de ideologia era muito claro: havia duas ideologias na sociedade, a proletária e a burguesa.
Aquele pensamento de que ideologia é uma coisa falsa, usada para enganar, para explicar os fatos de forma errada, já não era aceita por Lênin. Ela foi adquirindo cada vez maior importância. Iniciava-se também, em 1920, a diluição daquilo que foi chamado de ideologia ou cultura proletária.

Mudança no conceito
Os trabalhadores passaram a ganhar mais, a participar mais da vida burguesa, ou seja, passaram a ter mais direitos, a poder comprar mais, e deixaram de morar em locais tão miseráveis, tão insalubres e pobres. Iniciou-se, no começo desse século, uma chamada “integração” do operário na vida cultural da sociedade. As ideias dos burgueses começaram a fazer parte das ideias dos trabalhadores, sendo que o aparecimento dos meios de comunicação (rádio, cinema, jornal) contribuiu muito para que isso acontecesse. Acabou a história de que o operário formava um grupo à parte na sociedade.

Logo após a Revolução Russa, ocorreu um rápido desenvolvimento do Capitalismo, principalmente na Europa. Esse período foi marcado por uma discussão muito séria sobre a Ideologia. George Lukács, pensador húngaro, foi o primeiro a ousar declarar que o Movimento Operário alemão não conseguiu êxito, impor-se, porque a cabeça do trabalhador vivia uma relação muito ambígua, uma relação dupla: possuía, ao mesmo tempo, uma série de ideias que reforçavam o ideal de solidariedade, união dos trabalhadores na luta pelo poder e pela revolução, mas também outras que iam para o lado contrário. O lado burguês reforçava a posição individual (de cada um por si, de “quanto mais eu tiver, melhor”, e coisas do gênero). Ou seja, havia algumas noções, certos pensamentos burgueses que se misturavam na consciência dos trabalhadores, fato que não terminou em 1930 e não desapareceu com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Essa nova forma de encarar o problema da ideologia é que marca também o pensamento mais recente.


AMPLIAÇÃO DO CONCEITO

Marx via o conceito de ideologia como consciências separadas de proletários e burgueses.

Lukács e os pensadores modernos viam a questão da consciência operária como alguma coisa mista, um conjunto de ideias, às vezes até bem opostas à sua realidade de classe. Depreende-se daí que a ideologia significou apenas um tipo de pensamento preocupado com a questão política: “Quem domina a sociedade? E esse que domina, domina quem?”
A questão da ideologia, nos dias atuais, é um pouco mais ampla do que isso. Não é apenas uma questão política, de ser contra ou a favor do proletário, da burguesia, do capitalismo ou do socialismo.
Para caracterizar a ideologia, recorremos à autora Chauí, que nos preconiza 6 aspectos:

Se tomarmos ideologia como uso de formas simbólicas para criar ou reproduzir relações de dominação, podemos concluir que as representações sociais, pelo fato de serem simbólicas, podem ser ideológicas, mas não podemos deduzir isto a priori.
Para dizer que uma representação social é ideológica, precisamos primeiro mostrar que ela serve, em determinadas circunstâncias, para criar ou reproduzir relações de dominação.

Uma Representação Social é ideológica se, com o uso de formas simbólicas, em determinadas circunstâncias, serve para criar ou reproduzir dominação. Convém aqui fazer uma breve colocação acerca do que sejam essas formas simbólicas e a dominação. As primeiras estão inseridas nos contextos sociais e correspondem a comportamentos, falas, imagens, textos, produzidos pelos indivíduos e reconhecidos por eles e pelo grupo. Dominação é “uma relação que se estabelece entre pessoas ou grupos onde uns interferem e se apropriam das capacidades ou habilidades de outros, de maneira assimétrica” (Oliveira & Werba, 1998, p.112)
A função da ideologia é nos impedir de pensar nos determinantes de nossas condições de vida.
A ideologia opera pela inversão (função social feminina), pela produção do imaginário social (explicações coerentes; prescreve à sociedade o que deve e como deve pensar, falar, sentir e agir), pelo silêncio.

A função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e políticas, dar-lhes a aparência de indivisão e de diferenças naturais entre os seres humanos.
Indivisão: apesar da divisão social das classes, somos levados a crer que somos todos iguais porque participamos da ideia de “humanidade” ou da idéia de “nação” e “pátria” ou de “raça”, etc.

Diferenças naturais: somos levados a crer que as desigualdades sociais, econômicas e políticas não são produzidas pela divisão social das classes, mas por diferenças individuais dos talentos e das capacidades, da inteligência, da força de vontade maior ou menor, etc.


A produção ideológica da ilusão social tem como finalidade fazer com que todas as classes sociais aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais, normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê-las realmente, sem levar em conta que há uma contradição profunda entre as condições reais em que vivemos e as ideias.
Por exemplo, a ideologia afirma que somos todos cidadãos e, portanto, temos todos os mesmos direitos sociais, econômicos, políticos e culturais. No entanto, sabemos que isso não acontece de fato: as crianças de rua não têm direitos; os idosos não têm direitos...
Para resumir, pessoal, ideologia é um conjunto de ideias, de procedimentos, de valores, de normas, de pensamentos, de concepções religiosas, filosóficas, intelectuais, que possui certa lógica, certa coerência interna e que orienta o sujeito para determinadas ações, de uma forma partidária e responsável.

Alienação
Marx investigou a alienação social. Interessou-se em compreender as causas pelas quais os homens ignoram que são os criadores da sociedade, da política, da cultura, da história, e acreditam que a sociedade não foi instituída por eles, mas por vontade e obra de deuses, da natureza, da razão...
Por que os homens não se reconhecem como sujeitos sociais, políticos, históricos, como agentes e criadores da realidade? Por que as pessoas não se percebem como sujeitos e agentes e se submetem às condições sociais, políticas, culturais, como se elas tivessem vida própria, poder próprio, vontade própria e os governassem, em lugar de serem controladas e governadas por eles?

Para compreender o fenômeno da alienação, Marx estudou o modo como as sociedades são produzidas historicamente pela práxis dos seres humanos. Verificou que, historicamente, uma sociedade sempre começa por uma divisão e que essa divisão organiza todas as relações sociais que serão instituídas posteriormente. Trata-se da divisão social do trabalho.
Na luta pela sobrevivência, os seres humanos se agrupam para explorar os recursos da natureza e dividem as tarefas dos homens adultos, das mulheres... A partir dessa divisão, organizam a primeira instituição social: a família.
As famílias trabalham e trocam entre si os produtos do trabalho. Surge uma segunda instituição social: a troca, ou seja, o comércio. Algumas famílias conquistam mais bens que outras, tornam-se mais ricas. As mais pobres vêm-se obrigadas a trabalhar para as mais ricas em troca de produtos para a sobrevivência. Começa a surgir a terceira instituição social: o trabalho servil, que desembocará na escravidão. Os mais ricos e poderosos reúnem-se e decidem controlar o conjunto de famílias, distribuindo entre si os poderes e excluindo algumas famílias de todo o poder. Começa a surgir a quarta instituição social: o poder político, de onde virá o Estado.
Nessa altura, os seres humanos já começaram a explicar a origem e a finalidade do mundo, já elaboraram mitos e ritos. As famílias ricas e poderosas dão a alguns de seus membros autoridade exclusiva para narrar mitos e celebrar ritos. Criam uma outra instituição social, a religião, dominada por sacerdotes, de famílias poderosas e que, por terem a autoridade para se relacionar com o sagrado, tornam-se temidos, venerados pelo restante da sociedade. É um novo poder social.
Os vários grupos de famílias dirigentes disputam entre si terras, animais e servos e dão início a uma nova instituição social, a guerra, com a qual os vencidos se tornam escravos dos vencedores, e o poder econômico, social, militar, religioso e político se concentram ainda mais em poucas mãos.
Com essa descrição, Marx observou que a sociedade nasce pela estruturação de um conjunto de divisões:


Divisão sexual do trabalho
Divisão social do trabalho
Divisão social das trocas
Divisão social das riquezas, divisão social do poder econômico
Divisão social do poder militar
Divisão social do poder religioso
E divisão social do poder político. Por que divisão?
Porque em todas as instituições sociais (família, trabalho, comércio, guerra, religião, política) uma parte detém poder, riqueza, bens, armas, idéias e saberes, terras, trabalhadores, poder político, enquanto outra parte não possui nada disso, estando subjugado à outra, rica, poderosa e instruída.
Esse conjunto estruturado de divisões torna-se cada vez mais complexo, intricado, numeroso, multiplicando-se em muitas outras divisões, sob a forma de numerosas instituições sociais, e que acabam por revelar a estrutura fundamental das sociedades como divisão das classes. A esse conjunto de instituições nascidas da divisão social, Marx deu o nome de condições materiais da vida social e política. Por que materiais? Porque referem-se ao conjunto de práticas sociais pelas quais os homens garantem sua sobrevivência (trabalho e troca dos produtos do trabalho) e constituem a economia.
A variação das condições materiais de uma sociedade constitui a História da mesma. Marx a designou como modos de produção.
“Os homens fazem a história, mas não sabem que a fazem” (Marx apud Chauí:172). Os homens acreditam que fazem o que fazem e pensam o que pensam porque são indivíduos livres, autônomos e com poder para mudar o curso das coisas como e quando quiserem. Ex: o pobre é pobre porque quer.
A alienação social é o desconhecimento das condições histórico-sociais concretas em que vivemos, produzidas pela ação humana, também sob o peso de outras condições históricas anteriores e determinadas. Há uma dupla alienação: por um lado, os homens não se reconhecem como agentes e autores da vida social, com suas instituições, mas por outro lado e ao mesmo tempo, julgam-se indivíduos plenamente livres, capazes de mudar sua vida como e quando quiserem, apesar das instituições sociais e das condições históricas. No primeiro caso, não percebem que instituem a sociedade; no segundo caso, ignoram que a sociedade instituída determina seus pensamentos e ações.

AS TRÊS FORMAS DE ALIENAÇÃO SOCIAL nas sociedades modernas ou capitalistas


1. A alienação social: nesta, os humanos não se reconhecem como produtores das instituições sociopolíticas e oscilam entre duas atitudes: ou aceitam passivamente tudo o que existe, por ser considerado como natural, divino ou racional, ou se rebelam individualmente, julgando que, por sua vontade e inteligência, podem mais do que a realidade que os condiciona. Nos dois casos, a sociedade é o outro (alienus), algo externo a nós, separado de nós, diferente e com poder total ou nenhum sobre nós.

2-A alienação econômica: nesta forma de alienação, os produtores não se reconhecem como produtores nem se reconhecem nos objetos produzidos por seu trabalho. Em nossas sociedades modernas, a alienação econômica é dupla: em primeiro lugar, os trabalhadores, como classe social, vendem sua força de trabalho aos proprietários do capital (donos das indústrias, etc.). Vendendo sua força de trabalho no mercado, os trabalhadores são mercadorias e, como toda mercadoria, recebem um preço, isto é, um salário. Entretanto, os trabalhadores não percebem que foram reduzidos à condição de coisas que produzem coisas; não percebem que foram desumanizados e “coisificados”.

2. A alienação intelectual: resultante da separação social entre trabalho material (que produz mercadorias) e trabalho intelectual (que produz idéias). A divisão social entre as duas modalidades de trabalho leva a crer que o trabalho material é uma tarefa que não exige conhecimentos, mas apenas habilidades manuais, enquanto o trabalho intelectual é responsável exclusivo pelos conhecimentos. Vivendo numa sociedade alienada, os intelectuais também se alienam. Sua alienação é tripla:

Primeiro, esquecem ou ignoram que suas idéias estão ligadas às opiniões e pontos de vista da classe a que pertencem, isto é, a classe dominante, e imaginam, ao contrário, que são idéias universais, válidas para todos, em todos os tempos e lugares.
Segundo, esquecem ou ignoram que as idéias são produzidas por eles para explicar a realidade, e passam a crer que elas se encontram gravadas na própria realidade e que eles apenas as descobrem e descrevem sob a forma de teorias gerais.
Terceiro, acreditam que as idéias existem em si e por si mesmas, criam a realidade e a controlam, dirigem e dominam. Pouco a pouco, passam a acreditar que elas se produzem umas às outras, são causas e efeitos umas das outras e que somos apenas receptáculos delas ou instrumentos delas. As idéias se tornam separadas de seus autores, externas a eles, transcendentes a eles; tornam-se um outro.
As três formas de alienação (social, econômica e intelectual) são a causa do surgimento, da implantação e do fortalecimento da ideologia.



Referencial bibliográfico


BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. 368 p.

CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1997. 125 p. (Coleção Primeiros Passos, 13).

LANE, Silvia T. Maurer; CODO, Wanderley (Org.). Psicologia social: o homem em movimento. 13. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. 220 p.

Chaui, Marilena. “ O Conhecimento” in: Convite à Filosofia
Ed. Ática, São Paulo, 2000.

Fonte: Texto Complementar- Ideologia e Alienação
Lisnéia Aparecida Rampazzo